domingo, 2 de março de 2025

21 / Nos 20 anos da morte do escritor cabo-verdiano Manuel Lopes




Manuel dos Santos Lopes (Mindelo, São Vicente (Cabo Verde), 23 de Dezembro de 1907 — Lisboa, 25 de Janeiro de 2005) foi um ficcionista, poeta e ensaísta e um dos fundadores da moderna literatura cabo-verdiana que, com Baltasar Lopes da Silva e Jorge Barbosa, foi responsável pela criação da revista "Claridade".

Manuel Lopes escrevia em português, embora utilizasse nas suas obras expressões em crioulo cabo-verdiano. Foi um dos responsáveis por dar a conhecer ao mundo as calamidades, as secas e as mortes em São Vicente e, sobretudo, em Santo Antão.

Emigrou ainda jovem tendo-se a sua família fixado em 1919 em Coimbra (Portugal), onde fez os estudos liceais.

Quatro anos depois, voltou a Cabo Verde como funcionário de uma companhia inglesa.

Em 1936, fundou com Baltasar Lopes a revista "Claridade", de que sairiam nove números.

Em 1944 foi transferido para a ilha do Faial, nos Açores, onde viveu até se fixar em Lisboa, em 1959.

Regressou apenas por duas vezes ao seu arquipélago.

O texto acima (com adaptações) foi retirado da Wikipédia

Ficção

Chuva Braba, 1956/1957

O Galo Que Cantou na Baía (e outros contos cabo-verdianos), 1959

Os Flagelados do Vento Leste, 1959

Poesia

Horas Vagas, 1934

Poema de Quem Ficou, 1949

Folha Caída, 1960

Crioulo e Outros Poemas, 1964

Falucho Ancorado, 1997

Ensaio

Monografia Descritiva Regional, 1932

Paul, 1932

Temas Cabo-verdianos, 1950

Os Meios Pequenos e a Cultura, 1951

Reflexões Sobre a Literatura Caboverdiana, 1959

20 / Allen Ginsberg (Newark, NJ, EUA, 1926 - Manhattan, NY, 1997) escrevendo à máquina

 

19 / Saído em 2024 no Brasil, mais um livro de Juergen Heinrich Maar: "Goethe e a Química", ed. Officio, Florianópolis, Brasil, 2024



Para os mais desatentos, a identidade de Goethe é apenas a de um grande poeta, uma das figuras cimeiras dessa arte, na vertente de língua alemã. Porém, o poeta foi interessado por por outras áreas, mormente a da Química, aqui também com elevado prestígio. Fazendo uso da sua elevada e simultânea erudição de químico e poeta, Juergen Heinrich Maar oferece-nos em "Goethe e a Química - Um ensaio histórico-químico" um historial muito bem documentado da actividade do autor de "Fausto". Trata-se de um dos três livros publicados em 2024 pelo autor, um deles já divulgado no T&T (post 14).


sábado, 1 de março de 2025

18 / Luís Palma Gomes, "Dir-me-ás"


Dir-me-ás


Dir-me-ás

se são ou não 

notícias auspiciosas 

ou pântanos onde o corpo se afunda

ao som triunfante de uma valsa.


Dir-me-ás

se sinto dor ou prazer

ou se alterno entre ambos

como um pêndulo balançando 

cada vez mais lento

sujeito que está ao atrito 

da doença e do amor descasado.


Dir-me-ás...

17 / Mais um interessante texto de Nicolau Saião - carnavalesco, desta feita... e com ilustração do próprio

O Arantes telefonou-me ainda não era meio-dia. Chovia de mansinho. Ele estava alegre, como sempre (vodka "Kamikaze"). "Congemino de que irás logo tu mascarado!", disse-me mostrando saber como iria ser no baile das Saavedras. "Aposto que vais de urso!", atirou gargalhando em stacato. Não lhe disse que sim nem que não. E ele, lampeiro: "Adeus, meu malandro! Daqui a bocado passo aí por casa para que me emprestes o sobretudo que a nena te ofereceu".

Estava nisto quando tocaram à campainha. Claro, era o Avelino. "Tou cá a pensar...", afirmou antes que eu respirasse fundo "Logo no baile das Reboredos... Sou capaz de jurar que vais de guarda-republicano!". Foi direito à garrafeira e, todo lampeiro, abalou-me com o "Queen Margot"! Ainda não se extinguira o estrépito na escada e já me repenicava o telelé. Naturalmente, era o Simões, o gorducho com o seu pigarro enervante. "Olha lá, parceiro do teu parceiro! Já pensei que logo irás de bispo à funçanata das Castro Henriques...", pespegou-me com vivacidade. "É ou não é, meu chapa?" E antes de me deixar reagir já me cravara a promessa firme de 50 euros sem caroço... Despediu-se velozmente e quem vejo aparecer no e-mail do meu portátil como sempre ligado? Evidentemente, o Belisário. "Meu garanhão", li na janela do sinistro aparelhómetro "Já cá se sabe que ao baile das Avintes tu irás de bombeiro. Faz-te de novas...E não te esqueças de me devolver aquela primeira edição que me surripiaste do Fernando Arrabal".

Suspirando, fui até à secretária. Nem tinha tido tempo de ler o correio do dia anterior. Uma carta. Hum, hum... Da fôfa, a Leopoldina. "Matulão, calculo que logo ao baile da Filarmónica não te sustenhas de ir de criada-para-todo-o-serviço. Sempre gostaste de meias pretas, eheh...". E dava-me logo o recado: "Não te esqueças de me levar a tua pulseira de ouro que eu depois devolvo-ta...".

A chuva parara. Olhei pela janela, com certa melancolia, as árvores que, muito quietas, estavam como sempre no enfiamento das ruas onde se cruzavam transeuntes com um ar algo abatido. Sentia-me meio patusco.

Respirei fundo.

Despi-me nas calmas. Pausadamente. Com prazer, com decisão. Pus-me mesmo sem cuecas, fui até à porta da entrada, fechei-a à chave e, voltando para o quarto, atirei-a lá para a gaveta de baixo do armário por uma fenda entreaberta que, depois, cerrei com esmero.

Desatei a rir de mansinho. Num estilo muito meu. Abri o ar condicionado, coloquei-o no quentinho, apanhei um exemplar do Boris Vian e estendi-me confortavelmente na doce cama.

Eles nunca tinham pensado que neste Carnaval eu iria ficar no leito mascarado de nudista...

In “O pincel honesto, contarelos para mortos-vivos”

Pintura de Nicolau Saião