Silêncio!
Pessoa quer dormir
Encontrei na página de um
Livro de Poesias de Pessoa
A folha cor de vinho de recortes finíssimos
Que caíra a meus pés submissa e linda
Naquela tarde feliz de Outono
Doce folha que de novo me revelaste
O poema de Pessoa que me
Entrará na alma tão subtilmente!
[...]
“Cessa o teu canto!
Cessa, que enquanto
O ouvi ouvia
Uma outra voz
Como que vindo
Nos interstícios
Do brando encanto
Com que o teu canto
Vinha até nós”
[...]
Que canto seria este, Pessoa
Melodia que não havia
E se a lembras te faz chorar?
Essa voz, Pessoa
Encantamento
Silêncio que há a seguir
Ao canto
Alheio a ti
E a quem canta?
Ah o encantamento
Do canto que vem
A seguir a outro canto
Quem o cantou?
Quem te fez ouvir
Para além
Do que é o sentido
Que voz tem?
Vozes com sentidos opostos!
Ah! Minha folha cor de vinho
Talvez essa voz te tenha seguido
Até o Livro de Poesias
Nesta terra por onde
A alma de Pessoa divaga
Sem saberes que o fazias
Será que também provocaste em mim
Esse encantamento do canto
Que vem a seguir a outro?
Estou a ouvir esse canto
Para além do sentido
Que a voz tem!
Mas quem a teria cantado?
Quem teria provocado em Pessoa
Esse encantamento
Que a mim também me encanta?
Porém Pessoa queria
O silêncio para dormir
E eu desejo tanto o silêncio
Para descansar!
Cessa teu canto!
Cessa!
Vem minha folha
Marca este poema de Pessoa
Que hoje reencontrei!
Um dia quero ouvir de novo
Esse canto que vem a seguir
A outro canto e encanta
Agora, silêncio!
Pessoa quer dormir
E eu desejo tanto descansar...