terça-feira, 7 de janeiro de 2025

5 / Solange Firmino (Brasil), "Despertar"


Despertar


É preciso transgredir a distração da flor em gestação,

tocá-la infinitamente,

sorver-lhe o perfume,

soprar a gota de orvalho pousada em cada cor,

inventar um arco-íris

pelas arestas do vento,

abrir caminhos para a primavera.


A sombra se faz luz,

o inverno se desfolha.

Como se existisse um tempo das estações,

a primavera dá sinais,

despida das névoas,

como se fosse a primeira vez.

Foto Joaquim Saial


1 comentário:

  1. "Despertar" tem uma forte conotação telúrica, levando o leitor para uma relação de imanência com os elementos naturais. Se atentarmos bem apenas no segundo e o último verso não surgem palavras denotando elementos da natureza. E mesmo o último verso, foca o carácter cíclico da natureza mediante uma sonoridade muito interessante. Mas o verso que mais me sensibiliza é mesmo o primeiro: " É preciso transgredir a distração da flor em gestação". Também neste verso os duplos "Transgredir/Flor" e "Distração"/"Gestação" soam como o bater do coração, como um animal a respirar.

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