Despertar
É preciso transgredir a distração da flor em gestação,
tocá-la infinitamente,
sorver-lhe o perfume,
soprar a gota de orvalho pousada em cada cor,
inventar um arco-íris
pelas arestas do vento,
abrir caminhos para a primavera.
A sombra se faz luz,
o inverno se desfolha.
Como se existisse um tempo das estações,
a primavera dá sinais,
despida das névoas,
como se fosse a primeira vez.
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Foto Joaquim Saial |
"Despertar" tem uma forte conotação telúrica, levando o leitor para uma relação de imanência com os elementos naturais. Se atentarmos bem apenas no segundo e o último verso não surgem palavras denotando elementos da natureza. E mesmo o último verso, foca o carácter cíclico da natureza mediante uma sonoridade muito interessante. Mas o verso que mais me sensibiliza é mesmo o primeiro: " É preciso transgredir a distração da flor em gestação". Também neste verso os duplos "Transgredir/Flor" e "Distração"/"Gestação" soam como o bater do coração, como um animal a respirar.
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