
quarta-feira, 30 de abril de 2025
sábado, 26 de abril de 2025
27 / Joaquim Saial, "Humilhação"
Humilhação
Aquele leão era o mais destrambelhado e mau caçador do bando. Quando ao tentar atacar um elefante foi agarrado pela tromba deste e projectado contra o grande imbondeiro, o que mais o vexou não foi esse facto, mas sim ouvir toda uma alcateia de oito hienas a rir-se às gargalhadas da sua desgraça.
quarta-feira, 16 de abril de 2025
26 / Luís Palma Gomes, a partir de um verso de "Tabacaria", de Álvaro de Campos/Fernando Pessoa
Há tantos que não pode haver tantos
porque se houvesse tantos, nem um havia.
E mesmo que houvesse um,
como seria ele singular e autêntico
se os outros eram tantos?
Não, não pode haver tantos
sem que rompesse de imediato
um escândalo e uma catástrofe,
por haver apenas um entre tantos.
e no final esse tal seria afinal nenhum,
para que continuasse a haver tantos,
apesar de não haver sequer um.
25 / Carlota de Barros (Cabo Verde), "Noite de lua cheia"
Noite de lua cheia
Tenho gravado nos meus olhos
O luar que me extasiou
Numa noite
Em que a lua cheia
Me seguiu
Calma e segura
Pelos caminhos por onde ia.
Ó noite de lua cheia
Tão calma ... tão bela...
Que ficaste gravada
Nos meus olhos
Até adormecer.
E como é belo o luar
Que tão naturalmente
Nos fica nas mãos e na alma!
Ó doce lua cheia
Tão calma tão bela
Que ficaste nos meus olhos
Para sempre.
Que mistérios escondes
Noite de lua cheia?
Ó noite de luar
Noite de doçura
Noite de mistério e luz
Como desejo ficar acordada
Para contemplar
Docemente o luar
Até brilhar a aurora!
E como é belo o luar
Nas minhas mãos
Naturalmente calmo
Naturalmente misterioso!
Ó lua cheia que enquanto
Eu adormecia feliz
Me uniste ao luar e à noite
Entre os mistérios da noite
E a doçura que o luar esconde!